Maior prazo para pagamento do crédito consignado esconde perigo

Às vezes uma aparente boa notícia esconde perigos e armadilhas. É o caso do aumento do prazo para o pagamento de empréstimos obtidos por aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no âmbito do crédito consignado. De acordo com uma portaria publicada na edição de 29 de setembro do Diário Oficial da União, o limite foi ampliado de 60 para 72 meses. A mudança vale desde o dia 1° de outubro. O valor máximo da renda a ser comprometida permaneceu na casa de 30% do valor da pensão ou aposentadoria.

 Embora a mudança tenha potencial para aquecer a retomada do crédito, ajudando a girar a emperrada roda da economia, o problema é que, quanto mais tempo alguém leva para saldar uma dívida, mais juros serão pagos. Não é diferente no crédito consignado, ainda que as taxas de juros das operações tenham sido mantidas (o Conselho Nacional de Previdência Social fixa em 2,14% ao mês o limite da taxa de juros para o empréstimo e em 3,06% ao mês para o cartão consignado).

 Ademais, com o prazo maior para pagamento, os empréstimos tendem a se tornar mais atrativos, aumentando não só o tempo que o aposentado vai ficar devendo na praça, mas também seu nível de endividamento. Não há dados concretos a esse respeito, mas quem vive o dia a dia do setor sabe que, com o comprometimento da renda impulsionado pelo crédito consignado, muitos aposentados chegam ao fim do mês sem dinheiro sequer para alimentos ou remédios. Por isso, todo é cuidado é pouco.

 De acordo com levantamento do Ministério da Previdência Social, considerando-se os contratos ativos em agosto de 2014, 91% tinham prazo entre 49 e 60 meses para liquidação. Cerca de 61% estavam no limite máximo de 60 meses.