Voto e preconceito

A vitória de Dilma reforçou o preconceito contra eleitores do Norte e Nordeste. Não faltaram comentários racistas com base em uma suposta divisão ideológica entre Norte e Sul – ou entre estados vermelhos e azuis, em referência às cores do PT e PSDB, respectivamente.

Na ponta do lápis, porém, Sudeste e Nordeste deram quase a mesma quantidade de votos para Dilma. Nesse quesito, a diferença entre as duas regiões foi de pouco mais de 300 mil votos. Por esse prisma, não houve divisão do país por região, e sim o velho preconceito contra o Nordeste.

Sim, Dilma venceu em grande parte dos estados do Norte e Nordeste. Mas também derrotou Aécio em Minas Gerais (berço político do tucano) e Rio de Janeiro, dois dos maiores colégios eleitorais do Sudeste. Se Aécio tivesse feito isso, teria ganhado a eleição. Por outro lado, Aécio Neves obteve maioria em algumas cidades do Nordeste. É o caso de Vitória da Conquista, no sudoeste baiano. Com mais de 300 mil habitantes, no segundo turno a cidade protagonizou uma vitória apertada de Aécio: 50,6% contra 49,4%.

Mesmo assim, as ofensas aos nordestinos e nortistas se multiplicaram. As mais comuns aludiam aos programas sociais de Lula e Dilma, associando seus beneficiários a uma ignorante massa de manobra eleitoral.

Nem vale a pena gastar saliva com esse tipo de argumento. Mais sensato seria lembrar que, num país civilizado, atitudes racistas e preconceituosas constituem crime. Quem as pratica sente o peso da lei. Oxalá cheguemos lá.