Cientistas revelam segredos da boa saúde mental em idosos
O declínio das capacidades cognitivas é um processo comum com o avanço da idade, mas alguns idosos superam os 80 anos com a saúde mental — sobretudo com a memória — comparável a de adultos décadas mais jovens. Esses “superidosos” intrigam os cientistas há tempos, mas uma pesquisadora da Universidade Northwestern, em Evanston, Illinois, diz ter descoberto os segredos para a longevidade saudável.
Segundo a pesquisadora, os cérebros dos “superidosos“ possuem diferenças marcantes em relação ao de outras pessoas da mesma faixa etária. Autópsias realizadas em dez desses indivíduos mostraram que eles possuíam maior número de uma célula cerebral conhecida como neurônio von Economo, encontrada em outros mamíferos superiores e relacionada com a capacidade de comunicação.
E uma das regiões onde essas células são encontradas é considerada importante para a atenção e a memória, o córtex cingulado anterior. Esta área, destacou Emily, é mais espessa nos “superidosos” do que a média de adultos mais jovens.
“Nós descobrimos que nos “superidosos“ nós olhamos no microscópio e encontramos mais neurônios von Economo que a média dos idosos, e mais neurônios desse tipo até que em jovens com 20 e poucos anos”, disse a cientista. “Não podemo explicar como eles ficaram com mais neurônios von Economo e por que isso é importante. Mas esse é um tipo especial de neurônio que apenas foi encontrado em algumas regiões do cérebro.”
É interessante que os cérebros de alguns dos “superidosos“ também apresentavam acúmulos da proteína beta-amiloide, apontada como um dos sinais do Alzheimer, mas eles mantinham a capacidade cognitiva e a memória. Essa descoberta pode ajudar a medicina a compreender as causas da demência e apontar formas de aumentar a resistência contra a doença.
Um fato curioso é que para manter a saúde mental, os idosos não tinham hábitos de vida considerados saudáveis. Alguns fumavam e reconheciam apreciar uma bebida.
“Nós perguntávamos por que eles eram “superidosos”, como chegaram lá, e uma dupla de senhoras divertidas disseram: “Bem, é porque nós tomamos um martini com as amigas todos os dias às 17h, mas outros nunca beberam”, contou Emily.
Estar abaixo do peso também parece ser uma questão, pois aqueles com índice de massa corporal muito baixa são mais propensos a morrer após os 80 anos.
“Não é ruim ser magro quando jovem, mas é muito ruim ser magro quando se é idoso”, comentou Claudia Kawas, neurologista geriátrica na Universidade da Califórnia, em Irvine.
Contudo, as pesquisadoras alertam que isso não significa que as pessoas devam adotar maus hábitos para viverem mentalmente saudáveis por mais tempo, já que a tolerância ao álcool e ao fumo pode estar relacionada a diferenças genéticas. Mesmo assim, é possível aprender com o estilo de vida dos “superidosos”. Num outro estudo, publicado no fim do ano passado, Emily notou que as pessoas que alcançam a velhice com boa saúde mental relatam relações com amigos e familiares mais satisfatórias e de qualidade que a média dos idosos.
“Nós somos muito bons e estender a duração da vida, mas não na duração da saúde. E o que os “superidosos“ têm é um balanço entre as duas, eles estão vivendo mais e vivendo bem”, disse Emily.
Com O Globo