Crise faz de aposentados os novos chefes de família

A retração da economia brasileira transformou em fardo para um número maior de aposentados a luta diária pelo sustento da família. O aumento da expectativa de vida – hoje de 74,9 anos – não se traduziu na esperada tranquilidade depois da aposentadoria, mas diferentemente, impôs desafios para a sociedade. Com a crise econômica e o aumento do desemprego entre a população mais jovem, cresce o universo de idosos que se veem obrigados a dar abrigo a parentes que foram dispensados do mercado formal ou não têm qualificação profissional para conseguir trabalho melhor remunerado.Em boa parte das famílias, aqueles que deveriam receber os cuidados passam a sustentar até os bisnetos, com os benefícios que recebem da Previdência Social. São comuns os casos em que aqueles com mais de 60 anos têm de fazer bicos para complementar a renda e bancar as despesas de uma casa cheia.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que mais de17 milhões de famílias no Brasil têm um idoso como provedor. Significa dizer que 24,89% do lares, ou quase um quarto, têm como responsável pelo sustento uma pessoa com mais de 60 anos, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). E o contingente de pessoas da terceira idade que permanece no mercado de trabalho não para de crescer.

No primeiro trimestre de 2014, eles representavam 6 milhões de trabalhadores. No mesmo período deste ano, 6,5 milhões de idosos estavam no mercado, dos quais 137 mil desocupados, mas em busca de uma vaga. Levantamento da Previdência Social aponta que pelo menos 480 mil aposentados se mantêm ativos e ainda fazem contribuições ao INSS. Especialistas, entretanto, avaliam que o número deve ser bem maior, já que muitos estão na informalidade. E com o aumento do desemprego, a tendência é que as pessoas busquem abrigo na casa de pais e avós.

O presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR), Alexandre Kalache, avalia que o sistema de proteção social brasileiro tem algumas contradições. Se por um lado, o governo criou uma Previdência Social universal que garante renda mínima para todos os trabalhadores que contribuíram ou não para o INSS, o valor do benefício é insuficiente para bancar as despesas, que só aumentam após a velhice. Conforme ele, o custo de vida no país é muito alto e a maioria da população é penalizada porque tem uma renda baixa.

O Estado de Minas