Uso do celular prolonga saúde mental de idosos

Estudos recentes mostram efeitos positivos do uso de tecnologia por idosos na preservação e na ampliação das suas funções cognitivas, como memória, velocidade de resposta e raciocínio.

Mario Miguel, professor do departamento de fisiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, diz que o contato com a informática provoca inclusive aumento no hipocampo, área do cérebro fundamental para a cognição e a memória, segundo estudo publicado em 2016.

O pesquisador diz que há duas grandes vertentes hoje em relação ao uso de tecnologia para estimular o cérebro. Uma delas é o de pacotes prontos de aplicativos e softwares para treinar áreas específicas, como cognição, memória episódica, memória operacional, foco e atenção.

O pesquisador explica que os ganhos se dão pela repetição. Sem uso, a perda de neurônios é mais rápida.

Quando o uso da tecnologia no dia a dia melhora a qualidade de vida, cria-se um ambiente afetivo positivo, aumenta a adesão do idoso às novas práticas e ele mantém suas faculdades cognitivas.

Miguel diz que as duas vertentes são complementares, mas que vêm crescendo entre os cientistas a recomendação de inserir a tecnologia no dia a dia. 

Hoje em dia já sabemos que há sobreposição total entre os circuitos neurais envolvidos em um ato motor complexo e nas tomadas de decisões”, diz ele. Toda vez que se aprende um movimento novo, o cérebro melhora sua capacidade em outros aspectos, incluindo o cognitivo.

“No curto prazo, só de aumentar o fluxo sanguíneo para a região do cérebro sob demanda já melhora o desempenho cognitivo. No longo prazo, isso gera plasticidade em todas as áreas.”

O acesso a tecnologia e internet ainda é bem menor entre os mais velhos, em comparação com os mais novos, segundo pesquisa Datafolha. São 72% os brasileiros que possuem conta em rede social, porcentagem que vai de 97% entre os com até 24 anos até 32% entre os 60+. Mas a fatia mais que dobra quando o idoso é mais rico ou mais escolarizado:  60% e 71%. 

E, se estão em menor número, os idosos são usuários mais frequentes de tecnologias como os jogos, mostra pesquisa do Instituto Pew, dos EUA: 36% dos gamers com mais de 60 anos joga todos os dias, a maior assiduidade entre as faixas etárias.

Depois de aprender a usar o mouse e digitar, os alunos de Magali aprendem a navegar na internet, criam seus endereços de e-mail e suas contas em redes sociais.

“Parece que voltam a viver novamente, porque encontram amigos do passado, familiares que estão à distância e podem conversar. Eles se renovam 50 anos”, diz ela.

A questão importante agora, segundo Miguel, é descobrir se há transferência dos ganhos obtidos com o uso da tecnologia também no longo prazo. “Se um velhinho fica craque no sudoku, por exemplo, será que isso melhora também sua capacidade em outras áreas?”, exemplifica o professor da UFRN.

Da Folha de S.Paulo